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Frente à seca severa, África inaugura agência espacial continental e integra monitoramento climático

A AfSA reunirá esforços para monitorar e mitigar os efeitos das mudanças climáticas que já provocam perdas agrícolas de até 25% em algumas regiões neste ano

Desde início da gestão Trump, cortes na USAID impactaram 80% do orçamento para monitoramento climático e projetos de assistência no continente (Mike Hutchings/Reuters)

Desde início da gestão Trump, cortes na USAID impactaram 80% do orçamento para monitoramento climático e projetos de assistência no continente (Mike Hutchings/Reuters)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 23 de maio de 2025 às 11h45.

Última atualização em 23 de maio de 2025 às 11h53.

A União Africana oficializou o lançamento da Agência Espacial Africana (AfSA), com sede no Cairo, iniciando a integração dos programas espaciais nacionais do continente. A nova entidade tem como missão central unificar a coleta, análise e compartilhamento de dados climáticos, meteorológicos e ambientais para apoiar a tomada de decisões frente aos crescentes desafios impostos pelas mudanças climáticas.

Historicamente, os programas espaciais africanos funcionaram de forma isolada e fragmentada. A AfSA, sob coordenação da União Africana — organização que reúne 55 países com o propósito de promover integração política, econômica e social — busca mudar esse panorama ao criar uma estrutura que possibilite economia de escala e o igualitário às informações geradas por satélites e sistemas de monitoramento.

“Antes, as iniciativas estavam dispersas, sem uma coordenação eficiente. A AfSA representa um modelo de governança que permite a todos os países membros o o equitativo aos dados, conforme suas necessidades”, explica Meshack Kinyua, engenheiro espacial e especialista em políticas africanas, que lidera ações de capacitação, ao portal TechInAfrica.

Prevenção de desastres climáticos

Entre os projetos prioritários está a ampliação de sistemas de alerta precoce, já bem-sucedidos em regiões como a África Ocidental e a Bacia do Congo, que alertam pescadores e comunidades vulneráveis sobre riscos climáticos iminentes. Para isso, a AfSA pretende desenvolver seus próprios satélites e firmar parcerias internacionais para suprir lacunas no monitoramento climático.

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A agência já iniciou uma colaboração com a Agência Espacial Europeia (ESA), que envolve treinamentos técnicos, troca de conhecimento e e para construção e operação de satélites. Benjamin Koetz, chefe da seção de ação de longo prazo da ESA, destaca que o modelo europeu de compartilhamento de custos e dados pode inspirar uma cooperação eficiente entre os países africanos. “Nem todos precisam investir nos mesmos tipos de satélites. Cooperar maximiza o impacto e reduz custos.”

Efeitos na economia e agricultura africana

A AfSA surge em um momento delicado para o continente africano, que enfrenta uma intensificação crescente de eventos climáticos extremos. De acordo com o Observatório Global de Secas Copernicus, gerido pelo Centro Comum de Pesquisa (JRC) da Comissão Europeia, áreas do Norte da África — como Marrocos e o oeste da Argélia — foram gravemente afetadas por secas, com perdas agrícolas avaliadas em até 25% e 6%, respectivamente.

Apesar de algumas regiões da Argélia terem apresentado alguma recuperação graças às chuvas de fevereiro, a expectativa é que as condições de seca persistam ou até piorem, sobretudo no Leste Africano, onde a estação chuvosa prolongada está projetada para apresentar volumes inferiores à média até o final de maio.

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As temperaturas permanecem elevadas em grande parte do continente. Enquanto o Norte pode esperar chuvas acima do habitual, as regiões Leste e Oeste atravessam longos períodos de seca, colocando em risco a segurança alimentar, a produção agrícola e os recursos hídricos que sustentam milhões de habitantes. Esses desafios têm efeitos diretos sobre a economia, a saúde pública e a estabilidade social na África.

Mudanças do governo Trump no financiamento climático africano

A colaboração internacional se torna ainda mais crucial diante do corte significativo nos programas financiados pelos Estados Unidos. A extinção da Usaid durante o governo Trump provocou a suspensão de cerca de 80% dos projetos de assistência à África, entre eles o Servir — uma parceria da NASA, Usaid e países em desenvolvimento que utiliza tecnologia espacial para monitorar desastres naturais e mudanças climáticas.

Com a maior parte dos recursos agora provenientes da União Africana e alocados em iniciativas específicas, a AfSA encara a dificuldade de operar com orçamento . “Os recursos são limitados e o trabalho é grande, mas é fundamental começar com os firmes e realistas”, observa Kinyua.

Desde que o Egito colocou no espaço o primeiro satélite africano em 1998, mais de 20 nações estabeleceram suas próprias agências espaciais, sendo que 18 delas já lançaram 63 satélites. As experiências desses países — como Nigéria, África do Sul e Egito — serão essenciais para impulsionar a AfSA, permitindo que a nova agência avance com maior rapidez e evite erros do ado.

Danielle Wood, professora do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), destaca que, ao reunir esforços focados nas demandas do continente, a AfSA pode se tornar um exemplo único de agência espacial regional. “Enquanto potências globais perseguem interesses próprios, a AfSA tem a vantagem de focar diretamente na resiliência africana frente à crise climática.”

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