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Segundo a ONU, apenas US$ 8,4 milhões dos US$ 264 necessários para projetos de água e saneamento foram investidos (Omar Sobhani/Reuters)
Repórter de ESG
Publicado em 9 de junho de 2025 às 18h00.
Cabul, a capital do Afeganistão, pode se tornar a primeira cidade moderna do mundo a ficar completamente sem água. Especialistas alertam que a situação é alarmante, e os níveis dos aquíferos da cidade caíram dramaticamente nos últimos anos. Um relatório da Mercy Corps revela que, se a tendência continuar, até 2030 os aquíferos de Cabul estarão completamente secos, representando uma ameaça existencial para os quase 7 milhões de habitantes da cidade.
Nos últimos 10 anos, os níveis de água nos aquíferos caíram até 30 metros, devido ao rápido processo de urbanização e às mudanças climáticas. Quase metade dos poços artesianos de Cabul, que são a principal fonte de água potável para os moradores, secaram. Atualmente, a extração de água excede em 44 milhões de metros cúbicos por ano a taxa de recarga natural dos aquíferos, o que acelera o esgotamento dos recursos hídricos.
A crise hídrica em Cabul não afeta apenas o fornecimento de água, mas tem consequências devastadoras para a vida diária de seus moradores. Segundo o relatório da Mercy Corps, o o à água potável tem se tornado uma verdadeira batalha. Algumas famílias gastam até 30% de sua renda mensal para comprar água, e mais de dois terços das famílias enfrentam dívidas relacionadas ao consumo de água.
Além disso, o relatório também aponta que até 80% da água subterrânea de Cabul está contaminada com esgoto, altos níveis de salinidade e arsênio, o que torna a água imprópria para consumo. Muitos moradores já enfrentam sérios problemas de saúde devido à falta de água potável.
A pesquisa destaca que, apesar da intervenção humanitária no Afeganistão ao longo das últimas décadas, a infraestrutura hídrica da cidade permanece inadequada para atender às crescentes necessidades da população.
O financiamento internacional, fundamental para o progresso de programas de água e saneamento, tem sido severamente comprometido desde que o Talibã assumiu o poder em agosto de 2021. Desde então, cerca de US$ 3 bilhões em ajuda internacional para projetos de água e saneamento foram congelados.
O apoio financeiro da comunidade internacional continua abaixo do necessário para implementar soluções efetivas. Em 2025, a ONU anunciou que os parceiros humanitários no Afeganistão haviam recebido apenas US$ 8,4 milhões dos US$ 264 milhões necessários para projetos de água e saneamento no país. A situação se agrava ainda mais com o corte de mais de 80% do financiamento dos Estados Unidos para programas de ajuda humanitária, como o USAID.
Apesar de todos os desafios, há algumas iniciativas que podem ajudar a aliviar a situação. Um dos projetos mais promissores é a canalização do rio Panjshir, que, se concluído, pode fornecer água potável para cerca de 2 milhões de pessoas em Cabul. O projeto está em suas fases finais de design, aguardando aprovação do orçamento de US$ 170 milhões e o envolvimento de novos investidores.
No entanto, especialistas alertam que o tempo é um fator crítico. Como destaca Dr. Najibullah Sadid, especialista em gestão de recursos hídricos que conversou com o The Guardian, as famílias de Cabul já enfrentam uma difícil escolha entre gastar seu dinheiro com comida ou com água. As autoridades precisam agir rapidamente para implementar soluções sustentáveis e evitar que a cidade enfrente um colapso total no fornecimento de água.